15/01/2012

....

one shoot nº4 - por joão queirós.
 

“ um distante som de passos lentos conseguia-se ouvir, misturado com a atmosfera quente que se sentia naquele lugar. parecia tudo tão calmo e frágil que não ousei em movimentar-me, avistando ao longe uma silhueta feminina a caminhar até mim.
os passos começaram a tornar-se cada vez mais distintos e próximos, continuando a seguir numa linha recta e exacta até á minha pessoa. estaquei; foi como se os meus pés tivessem sido colados ao chão, não me possibilitando qualquer movimento de deslocação. levantei os olhos sob a pessoa que surgia por entre a neblina fria e serena. era ela.
os seus cabelos castanhos pareciam ter-se tornado mais claros á medida que flutuavam numa brisa que eu não sentia. o seu corpo estava completamente coberto pela neblina, mas as suas formas certas e delineadas estavam á vista que qualquer olho apreciador de tal beleza.
os seus lábios eram o que mais chamavam á atenção; estavam rosados, quase do mesmo tom que a pele. tinham um aspecto suave e cuidado, como se tivessem sido esculpidos por deuses da grécia antiga.
ao parar diante de mim, também o barulho de passos esgotou-se, ficando todo aquele espaço num silêncio profundo. nada dissemos, os nossos olhos conseguiam transmitir todas as palavras que pretendíamos sem o auxílio da boca.
continuei sem me mexer, somente olhei-a e ela retribuiu o olhar. ficamos assim durante horas, e se eu pudesse, com certeza que ficaria ali toda a eternidade a fazer o mesmo. apenas olhá-la.
os seus olhos pareciam querer penetrar a minha mente, descobrir todos os meus segredos, e por breves segundos algo me fez pensar que conseguira tal coisa. sorriu disfarçadamente e aproximou-se mais do meu corpo.
foi a minha vez de me chegar mais até si. consegui senti-lo. ela sentiu o meu.
sorriu mais uma vez e encaminhou a sua mão direita á minha e levou-a ao seu peito. consegui sentir o seu coração a bater desenfreadamente, com um ritmo de outro mundo.
ela corou pouco depois.
retirei a minha mão do seu peito, e dirigi-a às suas ancas. agarrei-as como se não quisesse que ela fosse embora. e ela não foi; agarrou-se ao meu pescoço e olhou-me nos olhos mais uma vez.
o silêncio ainda reinava em todo aquele local, apesar de por vezes os nossos movimentos exigissem algum som, por muito pequeno que fosse. o seu cabelo continuava a flutuar ao sabor de um vento que eu não sentia. o seu corpo nú continuava escondido por entre a extensa neblina. (…)
beijamo-nos, era inevitável; e nesse momento, eu senti a brisa. a sua brisa; a brisa que a tornava quase angelical, que lhe ondulava os cabelos de forma mágica e pura. senti-a dentro de mim e foi uma das melhores sensações que alguma vez presenciei na vida.
continuamos o beijo até o ar nos faltar. apesar de as nossas bocas se terem afastado rapidamente, mantive os meus olhos fechados. na verdade, tinha medo de os abrir; sabia que se tal acontecesse, eu me aperceberia que tudo aquilo não passava de um sonho.
mas mais uma vez, foi inevitável. abri os olhos.
a mulher tinha desaparecido, juntamente com a  neblina e a brisa que eu sentira. abri os olhos e deparei-me com um raio de sol a encontrar-se com a minha cara. fechei os olhos com alguma brutalidade por causa de toda aquela luz, e virei-me para o outro lado da cama. voltei a abrir os olhos; ela estava lá mais uma vez, a dormir ao meu lado. os seus cabelos não flutuavam, apenas permaneciam desarrumados por entre as almofadas; o seu corpo não estava encoberto pela neblina fria, mas sim por lençóis brancos.
levei a minha mão ao seu peito. o seu coração continuava a bater aceleradamente como no sonho de á minutos atrás. sorri. movimentei o meu corpo para junto do dela e abracei-a devagar para não a acordar.
beijei-a na boceja e depois o seu pescoço. ela acordou, e eu voltei a ver os seus olhos castanhos.
beijou-me na boca logo depois, e aí eu voltei a sentir-me como se estivesse num sonho profundo; voltei a sentir a brisa que ela sentia dentro dela e mesmo no mundo real, sem toda aquela neblina e silêncio, a brisa voltou a ser uma das melhores sensações que alguma vez presenciei na minha vida. “